terça-feira, 12 de maio de 2009

O problema da forma


Por que os organismos vivos possuem as formas que possuem? A pergunta é pertinente já que o sucesso dos seres vivos depende de pelo menos três aspectos básicos: 1) a conservação da organização da vida; 2) sua dinâmica (no sentido de desenvolvimento, movimento/deslocamento e atividade biologica); 3) e a forma (seu aspecto macroscópico espacial).

As formas adquiridas pelos seres vivos são determinantes para suas funções ou atividades e é condição de sobrevivência dentro da topografia ambiental (relevo). Se você for redondo poderá rolar bem ou mal no chão, a depender do relevo geral do ambiente. Mas se você não for redondo, não rolará.

Ao se observar as primeiras formas de vida, ou seja, aquelas mais primitivas e que são primeiramente descritas nos livros de zoologia de invertebrados, percebemos que a maioria é assimétrica, com padrões de crescimento irregulares, podendo ser sésseis (que não se desloca voluntariamente) ou rastejantes tais como as esponjas marinhas e o Trichoplax adhaerens, respectivamente. As esponjas são organismos sésseis provavelmente por serem, na sua maioria, animais irregulares com padrões diversificados de crescimento (eretos, incrustantes ou ramificados). O Trichoplax adhaerens é um metazoário rastejante de corpo achatado e assimétrico, feito de um agregado de uns poucos milhares de células de quatro tipos diferentes que se organizam em três diferentes locais. É considerado o organismo de menor conteúdo de DNA de todo o reino animal (até o momento). Pois bem, de alguma maneira, a partir daí, a evolução animal seguiu no sentido da simetria radial e /ou bilateral. Os desenhos dos corpos de muitos animais com simetria bilateral apresentam proporções entre comprimento e largura conhecidas como Proporção Aurea. A proporção áurea, também denominada phi (φ), é um número irracional igual a 1,618 obtido a partir da seguinte igualdade: φ = (a+b) : a = a : b. Então, considerando o esquema dado na figura abaixo,
o resultado da equação algébrica será igual ao número phi (φ). Como já foi dito, esta proporção tem sido encontrada em várias partes do corpo humano e de outros animais, bem como em alguns tipos de sementes vegetais ou mesmo em padrões de crescimento de conchas de moluscos ou populações de coelhos, entre outros, e inspirou Leonardo da Vinci a fazer o seu Homem Vitruviano (figura ao lado) e, segundo alguns, a própria Monalisa. Entretanto, muito antes disso, foi utilizada na Grécia antiga em uma das obras mais orgânicas da antiguidade: o Parthenon.

Se retornarmos um pouco mais no tempo geológico, mais especificamente há 1800 milhões de anos atrás, no pré-cambriano, em plena emergência dos primeiros fitoflagelados (organismos unicelulares autotróficos) ou das primeiras células fotossintetizantes, perceberemos claramente que em grande parte desses organismos, senão todos, a evolução se deu não no sentido da simetria bilateral, da qual extraimos a proporção aurea, mas no sentido das irregularidades, das assimetrias, das ramificações e incrustações aparentemente desajeitadas. Estamos falando da evolução dos vegetais como contraponto à evolução animal. Se por um lado os animais são simétricos e móveis, por outro os vegetais são assimétricos e obrigatoriamente sésseis. Ambos extremamente relacionados, pois o veneno de um (dióxido de carbônico) é o “combustível” do outro.

Então, parece que a evolução no seu sentido mais amplo teve como característica principal o paradoxo das formas. Ou seja, a regularidade simétrica dos animais gerando o movimento, no sentido de deslocamento de um lugar para outro, e a irregularidade assimétrica e séssil dos vegetais. Ambas sempre em consonância com a topologia ambiental. Esta aparente contradição gerou uma pressão ambiental sobre os ancestrais do homem que levou ao desenvolvimento de articulações capazes de realizar movimentos precisos entre espaços mínimos, como foi o caso dos australopitecus, presos entre o “bipedismo” terrestre e a vida nas árvores. Assim, configurou-se duas geometrias da natureza: uma das formas regulares e proporcionais, como é o caso da geometria euclidiana, e a outra das formas irregulares e descontínuas, com é o caso da geometria dos fractais de Mandelbrot. E é exatamente sobre a geometria dos fractais aplicada à forma dos seres vivos que pretendo me aprofundar nos próximos posts.
Grande abraço e até lá.

14 comentários:

  1. Miro,parabéns... mto interessante o seu blog...não sou cientista - sou leiga sobre ciência...mas como vc convidou para uma reflexão sobre forma - que tem relação com arte, deixo meus pensamentos...fique a vontade para excluí-los depois.
    Penso:Não há como falar da forma sem falar qual seria o princípio desse raciocínio. Princípio embasado em observação e crença, ignorando qualquer possibilidade do valor abstrato, imaterialidade impalpável e inimaginável. Partindo desse pressuposto, a forma parece se moldar de acordo com essa evolução “autoreguladora” sob noção progressiva de uma natureza em equilíbrio dinâmico. A forma adquire métrica, geometria por necessidade econômica. Padrão. Adquire números “perfeitos” no lugar para proteger os seres (o trilítico Parthenon), na ação para conduzir a mente(a 9ª sinfonia de Beethoven), etc...Que essa ergonomia, simétrica ou não, se tornou adaptativa é observação. Quanto a forma, predispõe noção de espaço, que predispõe noção de tempo, que ainda desconhecemos – pois tudo é crença.Então, parece que a forma no seu sentido mais amplo é que "tem" como característica principal o paradoxo da evolução. Um abç Iva

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  2. Miro, adorei!! Mas antes de fazer qualquer comentário quero ler mais, como vc vai continuar a escrever, vou continuar lendo e entendendo para depois conversarmos. Quero tb te dar os parabéns, o seu blog está ESPECIALÍSSIMO!!! bjs

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  3. caro miro, mandei um post para vc mas não sei se recebeu. estou estreando nesse negocio de blog. escrevi indicando a leitura de um livro que achei interessante e que trata da razão aurea. e o livro do mario livio razão aurea, jatraduzido para o portugues. um abraço paulo roberto(veiga de almeida cabo frio -historia)

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  4. Ana Santeiro, o seu retorno só aumenta a minha responsabilidade. Grande beijo.

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  5. Oi Iva, Acho que a questão agora é o paradoxo do paradoxo. Certamente precisamos de uma meta ciência para dar conta dessas inquietações. Seja como for, a crença com base em evidências científicas, sejam elas humanas, exatas ou biológicas, sempre sustenta melhor o pensamento. Beijão.

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  6. Kenia,
    As nossas conversas estão todas aqui. Obrigado pelo retorno. bjs.

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  7. Querido mestre e amigo Paulo Roberto, vou procurar a sua indicação. Grande abraço.

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  8. Fala meu brother!

    Cara, simetria também tem a ver com a questão da beleza?
    Ou será isto algo só da imaginação do ser humano?

    O conceito vai um tanto além, ou não?

    Se tratarmos da questão do ponto de vista das "adaptações" que permitem a sobrevivência, não poderemos descartar nem mesmo elementos emocionais.

    "Se por um lado os animais são simétricos e móveis, por outro os vegetais são assimétricos".

    Bom, as pedras também "rolam", assim como o bom e velho "Rock and Roll".

    Olha só, linkei seu blog ao "Sangue Arterial".

    Beijão!!!

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  9. Oi brother,
    De fato. Aprendemos a procurar sempre pelo simétrico. Não nos interessa ólhos caídos, desvios de sépto, boca torta ou lábios leporinos. Quanto mais simétrico melhor. Assim, fomos selecionando os melhores genes e aperfeiçoando a nossa estética. Deu no que deu! É a lei da natureza que continua a rolar.
    No mais tudo segue essa lógica, mas requer estudos diferenciados. Grande abraço.

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  10. a busca de uma utópica perfeição nos leva à simetria.
    Mas em profusão torna-se insipida.
    A assimetria, tão constante nas plantas, nos vegetais é que nos encanta , nos tira da "mesmice".
    Queria ver um vaso de flores (simetrico) com todas as flores simetricas e simetricamente arranjadas.
    ass. um descendente Guinard

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  11. Excelente matéria que necessito copiar e registrar para continuar minhas pesquisas. Sinta-se à vontade para copiar/mencionar algo que lhe interessa do meu site: http://theuniversalmatrix.com.

    Waldemiro, este grande e misterioso fenômeno que é o da matéria apresentar macro-formas duplicadas em micro-estruturas que adquirem dinamicas e funcionalidades dentro das macro, pode ser ainda mais interessante quando olhamos a coisa pelo angulo da forma da Matriz. Esta formula como um software abstrato é uma força que organiza a matéria em sistemas seguindo um padrão gradativo, tendo sempre um inicio e passos sequenciais lógicos.

    Quando essa força constrói a metade de um novo sistema ela simplesmente duplica essa metade como se fosse uma face esquerda, produzindo a metade restante como se fosse a face direita. Assim a molécula de RNA se duplicou e se transformou no DNA. A coisa tôda pode ser melhor percebida se voce ler meu artigo "Espetacular Vídeo com o Código Matemático do Universo Decifrado pela Matriz/DNA", em novembro | 28 | 2010, categoria Curiosidades da Matriz. Gostaria de saber sua opinião a respeito e se podemos continuar esta pesquisa juntos. Abraços. de Louis Morelli

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  12. Para descendente Guinard. É claro que um olhar mais contemplativo da natureza nos aproxima da arte e da criatividade. Acho que só uma mente criativa pode avançar nos conhecimentos naturais.

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  13. Prezado Louis Morelli, Peço desculpas pela demora em lhe responder mas terei o tempo de que necessito a partir de dezembro de 2010. Assim poderei acabar de ler os seus trabalhos e entender melhor a Matriz. Abraço.

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