quarta-feira, 11 de março de 2009

Para que?


Tem uma coisa interessante quando se dá aula. A pergunta “porque?”. O “porque” constrange e parece coisa de outro domínio. Tipo religião ou física quântica. Têm um pé na metafísica das possibilidades inimagináveis definitivamente outras dimensões. Literalmente transcende! Quando me perguntam “porque” eu quase consigo ver um olhar carente de quem foi pouco amamentado. Definitivamente o “porque” não é a minha praia. Em biologia gostamos mais de “como” e “para que”. O “como” tem sempre relação com o mecanismo do sistema, suas propriedades e dinâmica, etc. O “para que”... bom, o “para que” é sempre para estar mais vivo e melhor. Mais adaptado! Para que morremos? Em última instância trófica, para que as mangas dos cemitérios sejam maiores e mais gostosas. Para que? Para que as larvas de Ceratitis capitata, uma espécie de mosca de fruta proteliana (o mesmo que parasito de fase juvenil), que vivem no interior da fruta, fiquem maiores e mais gostosas. Para que? Bom, para que a vespa Diachasmimorpha longicaudata, ou coisa parecida, possa atacar as larvas no interior da fruta e colocar nelas seus ovos. Para que? Para que a larva da vespa se alimente da pupa da mosca que se alimentou da popa da fruta que cresceu grande e gostosa no cemitério. Para que? Para que a larva da vespa se transforme em vespa adulta maior e mais gostosa. Para que? Sei lá! Pra começar tudo de novo. Para que? Sei lá! Eles estão usando isso até no controle de pragas de moscas da fruta!!! Para que? Dizem que lá na Tailândia eles gostam de vespa torradinha.
Tem uma coisa interessante que acontece quando eu estou dando aula. Os alunos gostam sempre do “para que”. Sei lá não é resposta!

7 comentários:

  1. Para quê é pior que porque?
    Hahahahaha

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  2. Hehehehe...

    Já tivemos papos nessa linha.

    "Porque" teria a ver com "causa e efeito"?
    O que é mais complicado definir, causa ou efeito?

    Viajando: Já assistiu "Efeito Borboleta"?

    Abração!

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  3. Hahaha, pior e mais frequente que o "porque" e o "para que" é o "isso vai cair na prova"? ahahahahhaa

    Pode dizer que esse é o campeão! :)

    O detalhe é que essas perguntas geram meio que um ciclo vicioso não é. Não tem fim! Isso é assim pq tem q ser. Pq tem q ser? Pq se não fosse assim, tal coisa n teria utilidade. E qual é? bla bla bla...

    Acho que nós alunos preferimos respostas diretas, exatas, mas que nem sempre existem. Por isso usamos a ferramenta "porque". Porque geralmente a resposta é simples - nem sempre ahhaa-.
    Agora se se pergunta "para que", aí vira um problema porque aí se gera uma explicação gigantesca que geralmente enrola os neurônios aflitos e só piora nosso raciocínio - o que não devia acontecer.

    Enfim, eu espero que quando eu seja professora, já tenham resolvido esse dilema hahahaa.

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  4. Oi Mônica, acho que a idéia é essa mesma. A minha preocupação no início do texto tinha relação com o que o Wagner colocou: causa e efeito. E isso é mais difícil de pensar. Entretanto, a própria noção de causa e efeito vem ganhando um contorno diferente com a idéia de complexidade circular do Edgar Morin. Nela, em rápidas palavras, o determinismo linear da causa sobre o efeito é subvertido com a possibilidade do efeito virar causa. Algo como a presa virar predador com base em certas circunstâncias ou condições iniciais. Isso foi relativamente bem mostrado no filme o efeito borboleta. Como disse a Hanna, o "por que" pode ser simples, e é exatamente isso que os teóricos da complexidade dizem. Grande abraço
    --
    Waldemiro Romanha

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  5. Miro em primeiro lugar adorei seu blog, quase todo dia dou uma passada aqui para dar uma olhada nas novidades. Sei que o assunto não é esse, mas como você mesmo citou no comentário acho que não tem problema algum em também comentar.
    Com certeza o livro que li do Edgar Morin fez "abrir" a minha cabeça em relação a tudo. Nenhuma das minhas perguntas a partir de agora tem apenas uma resposta, um pensamento. Lembro que quando estudei a "Teoria da Evolução" no ginásio, não existiu nenhum tipo de discussão sobre o assunto, o que o professor passou no quadro para a gente (os alunos) era a verdade e não era nem um pouco questionada, era simplesmente aquilo e acabou. Acho que todos nós deveríamos ter um pensamento mais crítico.
    Vou tentar explicar do meu jeito. Por exemplo, nas aulas de português que tivemos na época do ginásio, aprendemos que o sentido das palavras pode mudar, segundo o contexto em que a empregamos. Se eu disser “te amo”, essa palavra pode ser dita por um apaixonado sincero e ser tomada nesse sentido, mas também pode ser mentira de um sedutor barato. Não podemos simplesmente isolar uma palavra, é preciso ligá-la a um contexto para mobilizar o nosso saber.
    Acredito que o que deve mudar na aprendizagem não é apenas o interesse do professor em dar aula, mas sim o modo de pensar que cada um tem. Como Morin mesmo disse, é necessária uma reforma no pensar, que, consequentemente modificará o ensino. Todo esse movimento no pensar que Morin quer dizer, reflete sobre o mundo, altera os horizontes do modo em que olhamos para a terra, sobre a humanidade, sobre a vida, faz nós jovens dividirmos outras perspectivas de vida. A educação não deveria ser apenas a transmissão de conhecimentos, deveriam nos ensinar a viver, deveria ser uma educação que leve o homem a ser um cidadão.
    Acho que já falei demais né ? rs.
    Depois discutiremos mais sobre o assunto.
    Abraços!!
    --
    Leandro Maia Bonzoumet

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  6. Certamente que sim Leandro. Também sou um grande admirador da obra do Morin. Uma discussão sobre ensino tem grande espaço aqui, até porque a vida, como disse outro grande pensador, Humberto Maturana, apesar de ter uma organização fechada, é um processo congnitivo. Eu arriscaria a dizer que essa forma de ser e de estar vivo também foi adquirida na evolução biológica. Em breve, após esgotar alguns temas que estão me inquietando bastante e, por isso mesmo, os estou postando aqui, vou voltar a discutir sobre a organização da vida segundo Maturana e outros pensadores da Biologia. Você está convidado a pensar junto sobre isso. Agradeço a bela e inteligente participação. Grande abraço.

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  7. Não li tudo, mas o pouco que li dá pra ver a amplitude dos conhecimentos do nosso querido professor. Parabéns e sucesso!
    Concordo com o que o colega de turma Leandro falou, que deveriam nos ensinar a viver de maneira correta. No mundo atual pessoas corretas é na verdade uma raridade.
    Acho que não me engano, quando olho para o professor Waldemiro e o vejo como uma pessoa correta e justa. Continue assim, um abraço.

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