quarta-feira, 17 de junho de 2009

Um pouco de tudo e mais fractais

Algumas coisas ainda me deixam perplexo. Recentemente fui convidado de última hora para uma entrevista que tinha por objetivo confrontar a opinião de um cientista contra a de um teólogo a respeito da teoria da evolução. Tratava-se de uma monografia de final de curso de comunicação. Me surpreendi com a iniciativa uma vez que no próprio objetivo do projeto subtendia que “teoria da evolução” para muitos ainda era uma questão de crença baseada em opiniões próprias. Não é! Ainda estamos cometendo enormes equívocos por conta de um resquício de polêmica entre crença e conhecimento, e isto a epistemologia explica muito bem. A Teoria da Evolução é um fato sustentado por várias evidências científicas fornecidas pela paleontologia e geologia a partir de inúmeros achados fósseis e geológicos, todos devidamente datados por métodos cada vez mais sofisticados. E não para por aí! Áreas do conhecimento tais como genética, biologia molecular e anatomia comparada fornecem cada vez mais subsídios para a compreensão da evolução, algo que para cientistas e pessoas atentas não tem nada a ver com crença mas com conhecimento. O que eu estou querendo dizer? Que a ciência não pode ser contestada? Não é isso! A ciência pode e deve ser contestada pois este é um dos mecanismos do seu avanço. Entretanto, a ciência deve ser contestada com mais ciência, pois quando o conhecimento científico passa a ser encarado como uma crença irrefutável, intocável e imutável, torna-se dogmática e estabelesse-se aí as condições para o seu fracasso. É isso que se chama paradigma engessado (ver o livro pensamento sistêmico, pg. 33). O ideal é que as mudanças de paradigmas ocorram continuadamente. Vejamos um exemplo prático:

Voltando ao tema fractais
Para quem leu os últimos posts já sabe quase tudo sobre fractais. Para quem não leu fica aqui o convite para que o faça ou assista o vídeo apresentado pelo matemático espanhol Antonio Pérez Sanz. Durante a minha tese eu estava bem empolgado com o tema fractais e pedi a um aluno de iniciação científica que pesquisasse na internet algo interessante sobre esse tema. Ele me trouxe um artigo chamado “Caos e linguagem dos fractais”. Infelizmente o link que daria acesso ao artigo está corrompido, mas se você quiser saber mais sobre os autores do artigo “André Calixto Vieira” e “César de Oliveira Lopes” faça uma pesquisa na internet. Pois bem, junto com o artigo veio um conceito interessante chamado “embrião fractal”. Para Vieira e Lopes (2003), o embrião fractal é o elemento fundamental da figura, ou seja, aquele que se mostra repetitivo em qualquer escala (lembra-se do que falamos sobre autossimilaridade?). Então, se uma árvore possui ramos que se ramificam “infinitamente”, o embrião fractal, ou elemento fundamental da copa da árvore será uma imagem semelhante a uma forquilha. Concorda?

A ideia de um embrião fractal é ótima pois permite a visualização de uma estrutura fractal no tempo, isto é, dentro de um processo dinâmico de desenvolvimento e crescimento. Assim, mesmo formas da natureza que não se parecem com uma estrutura fractal podem ser classificadas como fractais por terem um comportamento fractal. Basta identificar o embrião fractal e verificar se durante o crescimento da estrutura ele aparece novamente, e assim por diante. Para exemplificar o que eu estou dizendo, vemos colocar os vegetais em termos de classificação e evolução.

Dos chamados vegetais superiores temos as Gimnospermas (plantas como as araucárias e pinheiros que possuem sementes sem frutos) e as Angiospermas (orquídeas, mangueiras, bananeiras e uma infinidade de outras plantas que possuem sementes dentro de frutos). Não se sabe ao certo se as angiospermas evoluíram das gimnospermas ou se ambas possuíram um ancestral comum (Crane 1988, Doyle et al. 1994, Price, 1996). O que se sabe é que, de acordo com os registros fósseis, o apogeu das gimnospermas ocorreu durante o baixo e médio Mesozóico (Triássico e Jurássico) e as angiospermas atuais teriam surgido apenas no Cretáceo Inferior há cerca de 140 milhões de anos . Veja a figura abaixo.

Neste momento nos interessa aprofundar o assunto apenas sobre as angiospermas. Estudaremos nas angiospermas os seus dois principais taxons (monocotiledôneas e dicotiledôneas) e as diferenças nas suas vasculaturas. Vamos fazer o seguinte, este post está ficando grande demais e não é a nossa intenção. Me comprometi em discutir a importância do conceito de embrião fractal, sua aplicação na biologia e na evolução das angiospermas e isso parece ter relação com o sistema vascular das monocotiledôneas e dicotiledôneas e outras coisas mais. Então, esperem mais uma semana, ou menos, e tudo isso ficará bem colocado. Grande abraço e até lá.

10 comentários:

  1. O post está super claro e deixa o leitor curioso para saber o que vem depois.Parece até um capítulo das novelas que antigamente se publicavam em jornais.

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  2. Ow brother, taí um nó que eu gostaria de ver desatado!!!

    Você disse: "O ideal é que as mudanças de paradigmas ocorram continuadamente".

    Concordo, e acrescento que: Tanto o conhecimento real, quanto os dógmas "engessados", verificados pelo "método cientifico" ou pela "percepção cognitiva", quero dizer: empirica, emocional, metafisica, espiritual..., devem ser constantemente revisados face às novas descobertas e avanços humanos.
    Ou não?

    Abraços!!!

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  3. Entendo que todo o avanço humano é advindo da compreensão da história e do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, bem como do pensamento humano a partir daí. Então, estes devem ser, de fato, constantemente revisados para não se transformarem em paradigmas engessados. Essa idéia de paradigma engessado me veio a partir da leitura do livro "pensamento sistêmico - o novo paradigma da ciência", quando a autora Maria José Esteves escreveu na pg 33: "quando o nosso paradigma se torna o paradigma, o único modo de ver e de fazer, instala-se uma disfunção que é chamada de "paralisia de paradigma" ou "doença fatal de certeza". Segundo ela, essa doença é muito fácil de se contrair e, acrescento, todos nós temos sofrido muito com essa doença.
    Grande abraço.
    Abração.

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  4. Prezado Colega
    Gostei do Blog.
    Sou o Cesar de O Lopes que cita no artigo. MUito obrigado em nome dos autores.
    Me associei como Oliveira ( seguidor) e estou a sua disposição e dos seus leitores.
    Precisando e mim - cesarsjc@hotmil.ocm . Abração a todos que admiram os embriões fractais!..

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  5. ESqueci - me blog pode ser visto clicando sobre meu nome. Até

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  6. Prezado Professor Dr.,
    Reitero a importância do seu artigo para o avanço do conceito de fractal.
    Atribuo o conceito de "embrião fractal" a vocês já que não encontrei
    em nenhum outro lugar tal conceito mesmo tendo levantado as
    referências contidas no seu artigo.
    Ainda pretendo desenvolver futuramente mais discussões dentro dessa lógica.
    Os textos publicados no meu blog são direcionados principalmente para
    leigos interessados no assunto e serão transformados em livro em
    breve.
    Já adicionei o link para o seu blog no texto onde seu nome foi citado
    bem como já divulguei no meu blog. Também entrei como seguidor no seu
    blog o que para mim é uma grande honra.
    Estou em vias de publicação de dois artigos sobre "fractais em
    biologia" em colaboração com a Dra. Rita Zorzenon e o Dr. Henrique L.
    Lenzi, o que me dará maior sustentação para falar sobre o tema.
    Grande abraço,
    Waldemiro S. Romanha.

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  7. Esta de parabens pelo blog, só gostaria de fazer uma pequena correção no post...
    Os eucaliptos não são gimnospermas são Angiosperma da família Myrtaceae...

    Já add o blog nos favoritos

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  8. Prezado Alexandre Santaella,
    Agradeço profundamente a verificação do erro no texto. Já corrigí! Quem trabalha na interface do conhecimento fica sujeito a equívocos dessa natureza. Certamente em um futuro breve cada texto deverá passar pela revisão de especialistas de diferentes áreas após minha própria revisão. Entretanto estarei mais atento a partir de agora.
    Grande abraço e obrigado novamente.

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  9. Oi Massarani,
    Existem duas preocupações aqui. Uma que os textos sejam autônomos com sentido completo e outra que, para aqueles que seguem regularmente, tenha um sendido de continuidade como uma "novela" mesmo. Ou seja, de uma história natural que, apesar de complexa, tem uma direção, ou múltiplas direções mas com um passado bem claro.
    Beijão.

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  10. miro, tudo bem? tenho acompanhado sempre o seu blog mas até agora não mandei comentários. estou te mandando um link que acho bem legal sobre um estudioso americano chamado ron eglash. ele estudou os fractais na afica. um abraço paulo roberto (uva, cabo frio)

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