sábado, 6 de janeiro de 2024

Capítulo 1/1: As Origens do Cuidar na Pré-História.

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Prezado (a) amigo (a), se quiser utilizar o meu trabalho como referência para o seu trabalho, siga o modelo abaixo.


ROMANHA, Waldemiro de Souza. As Políticas de Saúde na República Velha. In: ROMANHA, Waldemiro de Souza. Políticas Públicas de Saúde. Rio de Janeiro: UVA, 2021. p. 09 – 27. E-book: ISBN 978-65-5700-108-0. Disponível em: https://www.blogger.com/blog/post/edit/preview/8502128735235054609/4890156231092699587


As Origens do Cuidar na Pré-História

Introdução

Em outubro de 2020, encontrei em minha rede social uma postagem muito interessante sobre o início do processo civilizatório. De um modo geral, os marcos civilizatórios estão relacionados à transição do homem primitivo caçador/coletor para um modelo produtor/ agricultor, onde a fixação no campo é um determinante obrigatório. Deste novo modelo, surgem padrões emergentes de convívio comunitário, socialmente estratificados e delimitados por fronteiras, configurando ecossistemas culturalmente efervescentes e favoráveis ao surgimento da linguagem escrita, da matemática, das artes e das ciências. Não exatamente nesta ordem e muito menos de forma linear. Normalmente os avanços sociais ocorrem simultaneamente, e via de regra estão relacionados a processos associativos interdependentes.

Figura 1. Esqueleto do neolítico Chinês.

Contudo, a postagem chamava a atenção para um achado fóssil de um homem primitivo, provavelmente do período neolítico (10.000 a.C. e 4.000 a.C.), com uma calcificação óssea na perna derivada de uma fratura. Pelas características anatômicas e histológicas parecia que aquele indivíduo havia recebido um atendimento terapêutico eficaz e se recuperado de uma fratura. É provável que situações como esta tenham ocorrido inúmeras vezes ao longo do desenvolvimento das sociedades primitivas. E era exatamente sobre o ato de cuidar o foco da postagem. A figura (1) mostra a expressão de compaixão e cuidado em esqueleto do neolítico Chinês.

Ou seja, os maiores saltos civilizatórios não se deram a partir dos modelos de produção e exploração da terra e do trabalho, mas pelas boas práticas de cuidado com o outro, de acolhimento e preocupação com o bem-estar de cada membro da comunidade que tem direito à saúde e segurança. Portanto, a mensagem compartilhada falava de direitos humanos.

Este livro transita pelos principais fatos históricos que levaram aos avanços da saúde no Brasil, e chama a atenção para os riscos de retrocesso de todas as conquistas adquiridas após a promulgação da nova Constituição Federal de 1988, principalmente no que se refere aos direitos de todo cidadão a uma vida saudável com com casa, previdência, atenção básica, educação, segurança, salário digno e lazer. Enfim, a tudo aquilo que é determinante para uma vida com saúde.

As origens do cuidado na Pré-história

A saúde e a doença fazem parte de um mesmo processo capaz de manter a vida em um estado viável de equilíbrio fisiológico. O sucesso das espécies depende de mecanismos co-evolutivos suficientemente sofisticados para garantir que humanos e micróbios coabitem no mesmo nicho sem prejuízo para ambos. A aquisição de um sistema imunológico capaz de gerar proteção e tolerância a vírus, bactérias, vermes e fungos, fazendo com que a doença seja percebida como exceção e não como regra, é o segredo deste sucesso. Entretanto, em um passado longínquo, quando a regra era a doença, nossos ancestrais habitavam as savanas africanas e os áridos desertos da Península Arábica há aproximadamente 70 mil anos.

A próxima imagem (fig. 2) mostra um sítio arqueológico em um deserto árabe com pegadas humanas de 120 mil anos.

Figura 2. Sítio arqueológico em um deserto árabe com pegadas humanas de 120 mil anos.

A eterna diáspora das populações nômades que vagavam pelas vastas extensões continentais era acompanhada por todo tipo de perigo e risco a depender das condições que, na sua maioria, eram quase sempre desfavoráveis. Entre os diversos perigos os mais comuns eram:


Predadores ávidos por carne humana (fig. 3).

Figura 3. Fóssil de Smilodon sp. (tigre dente de sabre) extinto há 11 mil anos.

Doenças infecciosas causadas por agentes patológicos desconhecidos (fig. 4).

Figura 4.

Combates traumáticos e mortais entre grupos humanos culturalmente distintos que competiam por território e caça (fig. 5).

Figura 5. Confronto entre Cro-Magnon e Neandertal (40.000 a 10.000 anos atrás).

Portanto, a morte e a doença sempre estiveram presentes e ocupavam um espaço de preocupação nas populações nômades que viviam sobre intensa pressão ambiental. Tais pressões levaram o homem primitivo a perceber pontos anatômicos determinantes para a manutenção da vida durante períodos de paz ou para o favorecimento da morte em tempos de guerra.

Sabe-se que durante quase toda a evolução humana os nossos ancestrais atribuíram grande importância aos traumatismos cranianos pelo seu caráter dramático e sua letalidade. As evidências estão nos achados fósseis de crânios com lesões severas derivadas de confrontos interpessoais. Os primeiros registros de comportamentos terapêuticos voltados para este tipo de lesão datam do Neolítico há aproximadamente 10.000 anos, quando crânios submetidos a trepanação (Orifício cirúrgico realizado intencionalmente para determinado fim) foram encontrados em culturas pré-históricas.

Figura 6. Trepanação.

A imagem (6) mostra a neurocirurgia em culturas pré-colombianas. Tal prática prevaleceu até meados do século IX DC evidenciando sua importância principalmente no tratamento de enxaquecas e epilepsias (Castro & Fernandes, 2010).

Portanto, o desenvolvimento das civilizações conjugado com o aumento proporcional da inteligência humana foi atravessado por uma preocupação primordial e determinante de todas as etapas que levariam ao surgimento de habilidades voltadas para o cuidar, prevenir doenças e evitar mortes.


Continua...

Prezado leitor, caso queira ler os outros quatro capítulos deste livro me envie uma mensagem que eu responderei com prazer. Grande abraço.

Bibliografia

1. Nunes, E. D. Sobre a história da saúde pública: ideias e autores. Ciência e Saúde Coletiva. 5(2): 251-264, 2000. https://www.scielo.br/pdf/csc/v5n2/7095.pdf

2. Costa, M. C. L. Influências do discurso médico e do higienismo no ordenamento urbano. Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia. 9(11): 63-73, 2013. https://ojs.ufgd.edu.br/index.php/anpege/article/viewFile/6492/3473

3. Dias, J. C. P. Cecílio Romaña. O sinal de Romaña e a doença de chagas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. 30 (5): 0-0, 1997. https://doi.org/10.1590/S0037-86821997000500012

4. Castro, F. S. & Landeira-Fernandez, J. Alma, mente e cérebro na pré-história e nas primeiras civilizações humanas. Psicologia: reflexão e crítica. 23 (1):141–152, 2010. https://doi.org/10.1590/S0102-79722010000100017

5. Katz, N. & Almeida, k. Esquistossomose, xistose, barriga d’agua. Ciência e Cultura. 55 (1):1-5, 2003.

6. Castro, S. L. A. O pensamento sanitarista na primeira república: Uma ideologia de construção da nacionalidade. Revista de Ciências Sociais. 28(2):123-210, 1985. Biblioteca Virtual em Saúde (bvsalud.org)

7. Madigan, M. T.; Martinko, J. M & Parker, J. Microbiologia de Brock – 10 ed. – São Paulo: Pearson, 2004.

Mídias

8. Como os Homo sapiens se espalharam pelo mundo. A dispersão do homem primitivo pelos continentes. Evolução e antropologia. https://www.youtube.com/watch?v=oBLYb636tFA

9. A revolta da vacina é uma história contada pela metadeCrítica sobre a ação higienista das brigadas de Oswaldo Cruz durante a campanha de vacinação em 1904https://www.youtube.com/watch?v=kEIFyVxpRSQ

10. Especial epidemias: Uma história das doenças e seu combate no Brasil. Palestra sobre as políticas públicas que ajudaram a erradicar algumas epidemias no Brasil. (https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/especial-epidemias-uma-historia-das-doencas-e-seu-combate-no-brasil/)

11. A História da capoeira. Eduardo Bueno. https://youtu.be/fAdeOPjprro



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